Foi há mais de década e meia que pela primeira vez me surpreendi ao ver miúdos no recreio de uma escola dos arredores de Lisboa, exibindo armas.
Na altura questionei a directora da escola que me respondeu saber o que se passava, mas ser impotente para impedir a entrada dessas armas, por falta de meios. Terá chegado a confrontar alguns pais com a situação, os quais reagiram com indiferença. Um deles terá mesmo dito que tinha sido ele a oferecer a arma ao filho, para que se pudesse defender.
Esta escola ficava num meio muito problemático da margem sul, pelo que admiti ser um caso isolado.
Ao longo dos anos pude constatar que estava enganado. Não só presenciei a mesma situação em várias escolas, como fui confrontado com o facto de não ser exclusiva de bairros problemáticos.
Como não acredito que as armas em mãos de miúdos com 14 ou 15 anos tenham sido compradas por eles, esbocei um sorriso ao ler que os pais "EXIGEM" mais psicólogos nas escolas para prevenir estas e outras situações potencialmente geradoras de actos de violência.
Confesso que tive saudades dos meus tempos de juventude, quando havia métodos bem mais eficazes e baratos para combater a violência nas escolas, mas depois pensei melhor e concluí que estava a ser injusto.
No meu tempo as crianças viam os pais diariamente e eles assumiam a sua função de educar, não a remetiam para a escola. O que era bom, porque havia poucos psicólogos. Hoje há psicólogos à fartazana e muitos não encontram emprego.
Já agora, os psicólogos podiam também ensinar os meninos que não é muito bom andar uma semana bêbado quando se tem 15, 16, 17 ou 18 anos. E de caminho aproveitavam para dizer aos paizinhos que deixar miúdos de 13, 1 4 e 15 anos dormir duas ou três noites ao relento, para "guardar lugar" num concerto, também não é muito aconselhável.
Pronto, admito... sou um psicólogo falhado e à moda antiga. Por isso acabei jornalista e estou aqui a reconhecer que há coisas bem piores do que andar bêbado durante uma semana. Quais? Ir para a escola com uma arma de fogo ou uma faca de ponta e mola, por exemplo.